domingo, 26 de junho de 2011

3%

A ficção científica não é um ponto forte da teledramaturgia brasileira. Recentemente, o gênero foi explorado por novelas da rede Globo como Tempos Modernos (que contava com um pastiche do robô HAL 9000) e Morde & Assopra. A rede Record também apostou no gênero, com os péssimos efeitos especiais de Os Mutantes. Os resultados, porém, foram risíveis. Acontece que uma boa ficção científica não se faz apenas com efeitos especiais. As melhores produções de ficção científica são aquelas que privilegiam uma boa história a ser contada, às vezes até mesmo com quase nenhum efeito especial.

Esse é o caso de 3%, projeto de jovens cineastas cujo piloto já pode ser visto no Youtube. Segundo os próprios criadores, "a série acompanha a luta dos personagens para fazer parte dos 3% dos aprovados que irão para o Lado de Lá. A trama se passa em um mundo no qual todas as pessoas, ao completarem 20 anos, podem se inscrever em um processo seletivo. Apenas 3% dos inscritos são aprovados e serão aceitos em um mundo melhor, cheio de oportunidades e com a promessa de uma vida digna."

Assista ao piloto:





Com inspiração declarada em filmes como THX-1138 e 1984 e em livros como o próprio 1984 e Admirável Mundo Novo, 3% conta como uma produção cuidadosa, boas atuações e um roteiro com muito potencial. O cruel processo seletivo pelo qual os personagens passam funcionam como uma metáfora para a inserção do jovem no Ensino Superior e no mercado de trabalho.

A série vem atraindo atenção do público na internet, mas os diretores só continuarão o trabalho se uma emissora de tv adotar o projeto. O potencial de 3% é inegável, mas será que os autores teriam sua liberdade criativa mantida na tv aberta? Eu, com meus poucos anos de experiência televisiva, não me lembro de ter visto nenhuma distopia (subgênero da FC que retrata cenários pessimistas e governos totalitaristas) sendo exibida por uma emissora brasileira. Mas a série também poderia ser bancada pelas emissoras de tv por assinatura, como a Fox, que provavelmente garantiriam mais liberdade aos criadores.

Mas uma coisa é certa: de uma maneira ou de outra, o show tem que continuar.