sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O que não foi falado

Já fazem quase três meses que viajei pra Buenos Aires e não consegui escrever sobre nada além da desastrosa viagem de ida para lá. A viagem de volta também poderia render um texto. Para fechar o ciclo, ela foi quase tão horrível quanto a ida, já que a minha mala foi extraviada. Eu, aventureira de primeira viagem, cheguei a passar mal por causa do desgosto.

Já agora as imagens que permanecem na minha mente são a Av. 9 de Julho, que eu sempre associo a Sampa de Caetano, o Obelisco, o caminho obscuro que percorremos até chegar no Caminito e os inúmeros cafés. No centro, havia um café em cada esquina. Meu sonho era chegar lá de manhã e ficar até a noite, ouvindo as histórias das pessoas entre uma media-luna e uma pasta a carbonara.

Fiz todos os passeios de turista, mas fiz os de não-turista também. Caminhamos muito pela cidade. A cada dia, rumávamos em direção a um bairro diferente. Retiro, Recoleta e até La Boca. Esse último foi o mais longo e mais emocionante. Fomos pelo lado cinza do bairro, um contraste muito grande com aquele colorido todo pra inglês ver do Caminito. Foi lá que vimos o lado verdadeiramente sul-americano de Buenos Aires. Esgoto na rua, casas mal cuidadas, população esquecida. Tudo isso me fez perguntar a mim mesma o que os moradores achavam do Caminito e para onde ia o dinheiro arrecadado ali. Hoje, me arrependo de não ter perguntado a eles. 

Eu poderia falar muito ainda sobre caminho de volta do Caminito. Um rápido resumo: queríamos ir a pé pelo mesmo caminho, mas um guarda nos disse que era muito perigoso! O que fizemos então foi procurar moedas para pegar um ônibus, porque os ônibus de lá só aceitam moedas, mas procurar moedas em Buenos Aires é como procurar uma agulha num palheiro. No fim, deu tudo certo, graças ao povo local, que foi compreensivo e nos ajudou.

Em um outro dia, fomos para as cidades vizinhas de Tigre e San Isidro, via Tren de la Costa. Só que para pegar esse trem turístico, tivemos que pegar o trem da verdade, na periferia, e o que vimos foi novamente um descaso com a população. População essa que era bem diferente da vista no centro da cidade. Ali se via claramente a descendência andina ao invés da européia. Esses trens eram velhos, caindo aos pedaços e não me admirou nada que tenha ocorrido aquele horrível acidente meses depois

Mas as lembranças que trago de lá são muito boas. O cheiro de media-lunas pela manhã, as empanadas do restaurante da frente do hostel, a 9 de Julho, a arquitetura hipnotizante da Recoleta e a réplica verdadeira do Pensador, uma jóia que não consta nos pacotes turísticos, mas deveria. Preciso voltar, para conversar com o pessoal de La Boca e para ouvir as histórias das pessoas, entre uma media-luna e uma pasta a carbonara.