quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Viagem de Trem em Buenos Aires

Há alguns dias, chegou ao Brasil mais uma notícia sobre um acidente envolvendo um trem na Argentina. Dessa vez, foram 50 mortos e centenas de passageiros feridos. No ano passado, outros incidentes ocorreram sem que fossem tomadas medidas para evitar novos acidentes. Foi preciso uma tragédia maior para que o país começasse a discutir os problemas desse tipo de transporte em Buenos Aires.

Estive na Argentina em julho do ano passado e presenciei de perto a situação precária dos trens da capital federal. Assim como fiz para visitar todos os outros bairros, fui caminhando do Centro até o Retiro, onde deveria pegar o trem rumo à periferia da cidade. Meu objetivo era chegar até a Estação Mitre, onde poderia pegar o turístico Tren de la Costa e visitar as cidades de Tigre e San Isidro, a 30 km de Buenos Aires. Os trens que vi pareciam estar caindo aos pedaços. Sentada em um dos assentos velhos, cheguei a ficar com medo porque o trem balançava perigosamente. Pensei que um deles fosse sair dos trilhos. As estações eram praticamente abandonadas. Uma delas (não lembro o nome) não possuía entrada nem fiscalização, de forma que qualquer pessoa poderia entrar em um dos trens sem apresentar bilhete. O que eu vi foi muito diferente do Trensurb aqui de Porto Alegre, por exemplo. Foi muito diferente também do centro de Buenos Aires. Era muito fácil perceber que aquela era uma região esquecida pelas autoridades, um corpo estranho que não pertencia à "Paris da América Latina".

O Tren de la Costa, por sua vez, com sua estação bem cuidada, com lindas lojinhas vintage e bistrôs que nos faziam voltar no tempo, também tratavam de apagar a triste realidade da periferia. Mas eu não fiquei surpresa quando, no ano passado, vi a notícia sobre o acidente entre um trem e um ônibus em Buenos Aires, assim como não fiquei surpresa com esse acidente horrível que aconteceu há poucas semanas.

O Clarín fez, há dois dias, uma reportagem sobre as condições precárias dos trens em Buenos Aires, e a situação é ainda pior do que eu tinha visto. Parece que eles vão diminuir o número de trens para aliviar o problema. Será que é suficiente? Enquanto isso, toda essa situação deveria servir de aviso ao Brasil, de que casos aparentemente isolados podem revelar problemas até então ignorados.