sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O que não foi falado

Já fazem quase três meses que viajei pra Buenos Aires e não consegui escrever sobre nada além da desastrosa viagem de ida para lá. A viagem de volta também poderia render um texto. Para fechar o ciclo, ela foi quase tão horrível quanto a ida, já que a minha mala foi extraviada. Eu, aventureira de primeira viagem, cheguei a passar mal por causa do desgosto.

Já agora as imagens que permanecem na minha mente são a Av. 9 de Julho, que eu sempre associo a Sampa de Caetano, o Obelisco, o caminho obscuro que percorremos até chegar no Caminito e os inúmeros cafés. No centro, havia um café em cada esquina. Meu sonho era chegar lá de manhã e ficar até a noite, ouvindo as histórias das pessoas entre uma media-luna e uma pasta a carbonara.

Fiz todos os passeios de turista, mas fiz os de não-turista também. Caminhamos muito pela cidade. A cada dia, rumávamos em direção a um bairro diferente. Retiro, Recoleta e até La Boca. Esse último foi o mais longo e mais emocionante. Fomos pelo lado cinza do bairro, um contraste muito grande com aquele colorido todo pra inglês ver do Caminito. Foi lá que vimos o lado verdadeiramente sul-americano de Buenos Aires. Esgoto na rua, casas mal cuidadas, população esquecida. Tudo isso me fez perguntar a mim mesma o que os moradores achavam do Caminito e para onde ia o dinheiro arrecadado ali. Hoje, me arrependo de não ter perguntado a eles. 

Eu poderia falar muito ainda sobre caminho de volta do Caminito. Um rápido resumo: queríamos ir a pé pelo mesmo caminho, mas um guarda nos disse que era muito perigoso! O que fizemos então foi procurar moedas para pegar um ônibus, porque os ônibus de lá só aceitam moedas, mas procurar moedas em Buenos Aires é como procurar uma agulha num palheiro. No fim, deu tudo certo, graças ao povo local, que foi compreensivo e nos ajudou.

Em um outro dia, fomos para as cidades vizinhas de Tigre e San Isidro, via Tren de la Costa. Só que para pegar esse trem turístico, tivemos que pegar o trem da verdade, na periferia, e o que vimos foi novamente um descaso com a população. População essa que era bem diferente da vista no centro da cidade. Ali se via claramente a descendência andina ao invés da européia. Esses trens eram velhos, caindo aos pedaços e não me admirou nada que tenha ocorrido aquele horrível acidente meses depois

Mas as lembranças que trago de lá são muito boas. O cheiro de media-lunas pela manhã, as empanadas do restaurante da frente do hostel, a 9 de Julho, a arquitetura hipnotizante da Recoleta e a réplica verdadeira do Pensador, uma jóia que não consta nos pacotes turísticos, mas deveria. Preciso voltar, para conversar com o pessoal de La Boca e para ouvir as histórias das pessoas, entre uma media-luna e uma pasta a carbonara.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Relato de Viagem - O Puyehue e o Buquebus

 Foto tirada por Camila.

Eram 7 horas da manhã quando chegamos em Buenos Aires. Eu, Camila e Thuany. A linda visão do nascer do sol no rio da Prata era um conforto, uma recompensa pela madrugada de pesadelos que tivemos. Tudo começou às 18 horas do dia anterior, quando nosso voo fez conexão em Montevidéu (para mim, que odeio viajar de avião, começou já em Porto Alegre). Estávamos sentadas dentro do avião, prontas para a decolagem. Eu, na porta de emergência, aterrorizada. Um uruguaio (ou argentino?) tentava puxar assunto. Eu nem respondia, tentava não pensar em nada, já morrendo de medo antes mesmo de o avião deixar o solo. Mas o avião nem chegou a decolar. O piloto nos avisou que o voo havia sido cancelado por causa das cinzas do vulcão chileno Puyehue. A primeira coisa que senti foi alívio. Mas, depois, o que fazer? Como três brasileiras no início da segunda década de suas vidas, uma mais perdida que a outra, se virariam diante de um imprevisto daqueles, de noite?

Agimos por instinto: seguimos nossos iguais, os brasileiros. Durante toda a noite, pedíamos uma informação aqui, outra ali. Minhas tentativas de falar espanhol com os funcionários do aeroporto foram patéticas. Minhas gesticulações, inúteis. Uma passageira insistia na ideia de irmos de barco até Buenos Aires. Deve ser uma medrosa como eu, pensei, mas torci muito por essa possibilidade. Às 21 horas, nos avisaram que iríamos mesmo de barco para Buenos Aires. Como era esse barco, eu não sabia, mas estava feliz. Qualquer coisa, menos avião. 

O tempo passou surpreendentemente rápido. À meia-noite, chegaram os ônibus que nos levariam à cidade de Colonia, onde pegaríamos o barco (Buquebus, era como o chamavam). Foi uma verdadeira selva. Passageiros dos mais de cinco voos cancelados devido ao vulcão corriam para garantir seu lugar no ônibus. Thuany, na ânsia de pegar um lugar confortável, colocou e retirou por três vezes sua mala de três ônibus diferentes. Acabou se separando de Camila e de mim. Foram mais de duas horas de viagem até Colonia. Todos no meu ônibus pareciam dormir, mas eu fiquei imaginando como seria a paisagem do interior argentino. Não devia ser muito diferente do pampa gaúcho. Pena que não era possível ver nada lá fora.

Assim que chegamos, mais estresse. Formaram-se três filas gigantescas que não andavam. Ninguém sabia o que fazer. Nenhum funcionário da companhia aérea Pluna tinha nos acompanhado até lá. Ainda no aeroporto, haviam nos dado uma passagem para o buquebus e, assim, se livrado do problema. Camila e eu achamos a Thuany e fizemos como todo mundo: esperamos. Lá pelas quatro da manhã, alguém do buquebus surgiu com uma lista mágica que continha todos os nomes dos passageiros, o que nos garantia o embarque.

Será que finalmente embarcaríamos para Buenos Aires, depois de quatro meses planejando a viagem e horas andando de um lado para o outro? Não. Camila e eu perdemos o papel de entrada e saída no país graças a um mal entendido da funcionária da Pluna. Sem ele, não poderíamos deixar o Uruguai. Tentamos explicar nossa situação, mas a mulher responsável pela migração parecia rir da nossa cara, seus subalternos ao lado permaneciam impassíveis. Havia só uma solução: pagar uma multa de 700 pesos uruguaios (cerca de 70 reais) cada uma. Exaustas e com medo de perder o barco, entregamos o dinheiro a ela, odiando mais do que tudo na vida aquele sorriso debochado. Antes de entrar no buquebus, um último momento de desespero: percorremos corredores e mais corredores, não chegando ao tal barco nunca. Aquilo mais parecia um cenário de filme de terror, totalmente abandonado. Por fim, chegamos, e o barco ainda estava esperando por nós. Finalmente, estávamos indo em direção a Buenos Aires.

Foto tirada por mim, enfim no buquebus.



*Esse foi o memorável primeiro dia. Ao longo da semana, vou postando o desenrolar da história.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Melancolia

Minhas impressões, antes que eu perca o fio da meada e acabe deixando pra lá (pode ter spoilers):

Nunca tinha visto um filme do Lars Von Trier, mas li no blog do Merten sobre os seus personagens que não se encaixavam muito bem na sociedade. Gostei muito da Kirsten Dunst, ela parece ter sido a atriz perfeita para o papel. Achei a cena de abertura, com a câmera lenta e a música clássica, meio Kubrick, mas eu acho tudo meio Kubrick de todo modo. Os simbolismos para mim estão muito claros, mas tem um que ainda não li em nenhum lugar: trata-se da oposição entre melancolia e luto.

Não sou psicóloga, mas isso foi algo que eu vi há alguns dias no Café Filosófico da TV Cultura. Sendo muito simplista, a melancolia é um estado em que não se aceita uma perda, enquanto, no luto, já há essa aceitação. Apesar da personagem Justine apresentar características melancólicas na primeira parte do filme (visto que ela encontra dificuldade em seguir em frente com a sua vida - fato que aparece simbolicamente quando seu cavalo não consegue atravessar uma ponte), na segunda parte, Justine já superou esse estado e finalmente entrou para a fase do luto. Ela está conformada com o fim, até mesmo a obviedade de seu figurino (uma camiseta preta) mostra isso. Paralelamente, sua irmã Claire, que possuía uma vida convencional e perfeitamente formada, passa a ser a personificação da melancolia. Ela não consegue aceitar o fim nem mesmo quando este chega de vez, contaminando o espectador com seu desespero. 

Há muitas outras coisas interessantes para serem pensadas sobre o filme (o planeta Melancolia, a criança, a atitude do pai), mas essa relação da melancolia e do luto entre as duas irmãs foi o que me chamou mais atenção. 

Fora, é claro, a cena final, que,  mesmo com o uso de recursos óbvios (como a trilha sonora que aumenta de intensidade), é marcante, angustiante e dá todo o sentido ao título do filme. É daquelas cenas que valem muito a pena serem vistas no cinema.

(Luto e Melancolia é também um texto de Freud de 1917, que estabeleceu os conceitos utilizados hoje. Trecho aqui.)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Crescimento

Se tem uma palavra que pode definir o fenômeno Harry Potter, essa palavra é crescimento. Em primeiro lugar, porque nós, os fãs (não tenho como fazer um texto com olhar distanciado), crescemos junto com as personagens. Ao longo da década, vimos Harry enfrentando seus medos, descobrindo amores e tendo que lidar com perdas difíceis. Aprendemos junto com ele valores que, embora possam parecer psicologicamente rasos nos livros de JK Rowling, fazem parte de nossa formação. Não há como negar isso quando se fala de Harry Potter. Muito do que somos hoje veio diretamente das personagens.

Tenho a impressão de que isso aconteceu também com os atores principais dos filmes de Harry Potter: Daniel Radcliffe, Rupert Grint e Emma Watson. Não deve ser nada fácil viver a infância tendo que, todos os dias, assumir o papel de outra pessoa. Hoje, quando vejo entrevistas dos atores e comparo com suas atuações, vejo muitas semelhanças no jeito de ser da atriz Emma Watson e da personagem Hermione Granger, por exemplo. As personagens também fizeram parte do crescimento deles, e acredito que tenha sido praticamente impossível eles conseguirem separar (por 10 anos!) seu "eu-real" de seu "eu-mágico".

Mas não é só por isso que Harry Potter significa crescimento. É interessante notar também o amadurecimento dos filmes. Se Chris Columbus, o diretor dos dois primeiros (em um total de oito), introduziu o mundo de Harry Potter de forma infantil e pouco criativa, David Yates chegou ao fim impondo seu estilo e finalmente conseguindo transportar as páginas do livros para as telas de cinema com uma certa maturidade cinematográfica. Yates se permitiu, por exemplo, realizar planos longos, em que o silêncio revela mais do que qualquer diálogo, coisa que seria impossível 10 anos antes, quando era exigido da série um ritmo hollywoodiano.

Para isso, Yates contou com a ajuda de ótimas atuações, inclusive de veteranos do cinema britânico. No último filme, Relíquias da Morte, Alan Rickman é, sem dúvidas, o que mais se destacou, representando a personagem mais complexa de toda a série. Ralph Fiennes finalmente conseguiu transmitir um pouco da intensidade do vilão Voldemort tal qual o vimos nas páginas dos livros. Os atores jovens também atingiram seu ápice no final. A partir da direção de Yates, o trio principal (principalmente Emma Watson e Daniel Radcliffe, que não vinham fazendo boas atuações) evoluiu muito. Emma deixou o exagero e soube expressar toda a carga emocional exigida pela personagem com veracidade. Rupert, que já apresentava boas atuações, pôde mostrar aspectos de Rony Weasley que ele ainda não tinha conseguido mostrar por causa do roteiro. Mas foi Daniel quem mais amadureceu. Nunca antes tínhamos visto um mesmo ator por 10 anos representando a mesma personagem, ainda mais em plena fase de crescimento. Se, em Relíquias da Morte, Harry finalmente se tornou um adulto ao ter que carregar um enorme peso nas costas, o mesmo parece ter acontecido a Daniel.

E, embora o final deixe boas impressões, é difícil aceitar essa perda, não apenas porque o fim de Harry Potter significa o fim da infância, mas também porque somos deixados em um momento em que, dentro e fora das salas de cinema, há ainda muito mais o que explorar.

domingo, 26 de junho de 2011

3%

A ficção científica não é um ponto forte da teledramaturgia brasileira. Recentemente, o gênero foi explorado por novelas da rede Globo como Tempos Modernos (que contava com um pastiche do robô HAL 9000) e Morde & Assopra. A rede Record também apostou no gênero, com os péssimos efeitos especiais de Os Mutantes. Os resultados, porém, foram risíveis. Acontece que uma boa ficção científica não se faz apenas com efeitos especiais. As melhores produções de ficção científica são aquelas que privilegiam uma boa história a ser contada, às vezes até mesmo com quase nenhum efeito especial.

Esse é o caso de 3%, projeto de jovens cineastas cujo piloto já pode ser visto no Youtube. Segundo os próprios criadores, "a série acompanha a luta dos personagens para fazer parte dos 3% dos aprovados que irão para o Lado de Lá. A trama se passa em um mundo no qual todas as pessoas, ao completarem 20 anos, podem se inscrever em um processo seletivo. Apenas 3% dos inscritos são aprovados e serão aceitos em um mundo melhor, cheio de oportunidades e com a promessa de uma vida digna."

Assista ao piloto:





Com inspiração declarada em filmes como THX-1138 e 1984 e em livros como o próprio 1984 e Admirável Mundo Novo, 3% conta como uma produção cuidadosa, boas atuações e um roteiro com muito potencial. O cruel processo seletivo pelo qual os personagens passam funcionam como uma metáfora para a inserção do jovem no Ensino Superior e no mercado de trabalho.

A série vem atraindo atenção do público na internet, mas os diretores só continuarão o trabalho se uma emissora de tv adotar o projeto. O potencial de 3% é inegável, mas será que os autores teriam sua liberdade criativa mantida na tv aberta? Eu, com meus poucos anos de experiência televisiva, não me lembro de ter visto nenhuma distopia (subgênero da FC que retrata cenários pessimistas e governos totalitaristas) sendo exibida por uma emissora brasileira. Mas a série também poderia ser bancada pelas emissoras de tv por assinatura, como a Fox, que provavelmente garantiriam mais liberdade aos criadores.

Mas uma coisa é certa: de uma maneira ou de outra, o show tem que continuar.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Os 4 P's (da música pop?)

Um dos principais objetivos da música pop é vender. Pelo menos ao longo das duas últimas décadas (em que eu acompanhei a música pop e posso falar melhor sobre), inúmeras fórmulas e estratégias foram criadas visando atingir o topo da Billboard, quebrar records e gerar lucro. As cantoras solo americanas, por exemplo, fazem uso principalmente da imagem e da publicidade, deixando o produto, muitas vezes, em segundo plano. 

Com o novo álbum da cantora Lady Gaga, Born This Way, lançado na semana passada, novas estratégias de marketing, plenamente adaptadas ao mundo digital, aparecem no horizonte da cultura pop. Acontece que sua gravadora fez um contrato com o site de vendas Amazon, que disponibilizou por um dia o formato digital do álbum de Gaga literalmente a preço de banana: 99 centavos. Estima-se que só nesse site, o álbum tenha vendido 400 mil cópias em uma semana.

A questão é que comprar um cd por 1 real é praticamente a mesma coisa que fazer o download do produto, ainda mais nos Estados Unidos, onde as pessoas tem o hábito de comprar as músicas digitalmente ao invés de baixar (no site de vendas iTunes, uma única música pode vender até mesmo 300 mil cópias por semana). Assim sendo, a equipe de marketing de Gaga bolou um jeito de reverter o quadro da "pirataria" a seu favor, vendendo o produto cerca de 20 vezes mais barato do que o usual (no iTunes, os álbuns são vendidos a cerca de 11 dólares). 

Ou seja, boa parte desses "semi-downloads" passou a contar como cópias vendidas oficialmente. E isso é inegavelmente inteligente, porque, embora não gere lucros consideráveis, contribui para a publicidade e fortalece a imagem da cantora, que supostamente irá vender mais de 1 milhão de cópias em apenas uma semana (algo extremamente raro do mercado da música pop atual). Além disso, o cd está sendo vendido em lugares até então inimagináveis, como a loja de cafés Starbucks. Um trabalho de distribuição e pontos-de-venda, atrevo-me a dizer, nunca antes visto na música pop. Somam-se a tudo isso as letras polêmicas, os videoclipes super-produzidos e os figurinos escandalosos da cantora e, voilá, uma verdadeira aula de marketing. Produto, preço, ponto-de-venda, promoção.

Mas o que eu continuo me perguntando é se existem limites nessa relação da música pop com o marketing. Até onde vai uma gravadora ou um artista na eterna busca do sucesso comercial? Acho que essa é a grande questão.




P.S.: considerem esse post como uma tentativa não-sucedida de fazer algo o mais imparcial possível.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Dubstep Is the New Black

Gênero da música eletrônica surgido na cena underground de Londres no início dos anos 2000, o dubstep caracteriza-se por texturas claustrofóbicas e melancólicas, "de máximo impacto físico e mental", segundo o site Rraurl.com, especializado em música eletrônica. O dubstep começou a se popularizar através de nomes como o de Rusko e se tornou sucesso na cena eletrônica alternativa (não confundir com raves e boates onde predomina o estilo David Guetta) mundial.


Nunca fui em nenhuma dessas festas underground onde rola o dubstep, mas pelo que se vê nas redes sociais, o gênero é constantemente associado a drogas e sexo. Ainda segundo o Rraul.com, ele é essencialmente anti-pop.

Mas, de uns anos pra cá, o dubstep tem aparecido na cena mainstream, o que, é claro, irritou aqueles que já conheciam o estilo "antes de virar modinha". Esse fluxo da cena underground para o mainstream é, muitas vezes, inevitável, principalmente se o objeto em questão tiver qualidade para chamar a atenção de quem atua na indústria pop.

Esse é o caso do dubstep. Desde 2010, há uma verdadeira febre na música pop, com vários remixes aparecendo nas redes sociais da vida. Até mesmo o tema do filme Harry Potter apareceu remixado ao gênero. Embora ele já venha fazendo discretas aparições desde 2007 em músicas de cantoras pop, como Rihanna e Britney Spears, foi só agora que o dubstep foi de fato incorporado ao pop. Femme Fatale, o novo álbum de Spears, lançado em março, é a maior prova dessa integração. A cantora chegou até mesmo a trabalhar com o próprio Rusko (blame it on him). O gênero foi utilizado não apenas no single de abertura do álbum, Hold It Against Me, como também em outras músicas, como na sexy-melancólica Inside Out:


Como não poderia deixar de ser, tudo isso causou polêmica. "Britney matou o dubstep", disseram alguns. Outros reconheceram que a mistura não é das piores, a popularização já vinha acontecendo e em breve entraria de vez na indústria pop. O problema é que, em algumas faixas do álbum, Britney quebra as características de melancolia e claustrofobia do dubstep, misturando o estilo com batidas alegres e melodias grudentas. Essas distorções, porém, sempre acabam acontecendo quando um estilo é popularizado, e seria quase um milagre se o dubstep permanecesse exatamente como foi criado. Apesar disso, em  tempos de pós-modernidade, é aceitável que essa hibridização ocorra, criando ainda mais novos estilos. Tudo o que é bom merece reconhecimento, e, se a indústria pop escolheu o dubstep, todos só tem a ganhar com isso.




Um exemplo puramente dubstep: http://youtu.be/OrsDfQ-qmjs

Quer saber mais sobre música eletrônica? O site http://techno.org/electronic-music-guide/ é um ótimo guia (em inglês) que explica direitinho todos os gêneros e subgêneros, com exemplos pra ouvir.

sábado, 23 de abril de 2011

Rapidinhas sobre os últimos filmes vistos

Testemunha de Acusação (Billy Wilder, 1957): Ah,Wilder... sempre com seus roteiros surpreendentes, com sua direção precisa e uma trama cheia de suspense e reviravoltas. Tipo de filme que você acha que já sabe o final, mas descobre que estava muito enganado. Atuações excelentes de Charles Laughton, Tyrone Power e Marlene Dietrich.

Pickpocket (Robert Bresson, 1959): Inspirado em Crime e Castigo, de Dostoiévski, mas nem por isso deixa de ser um filme autoral. Bresson segue o mote de Crime e Castigo, mas faz questão de explicitar suas diferenças ideológicas, como no tema religião. O filme é drama, mas eu o classificaria como documentário sem hesitar, por seu um retrato angustiante e realista de um batedor de carteiras.  

Netto Perde Sua Alma (Beto Souza e Tabajara Ruas, 2001): Filme da "escola gaúcha", conta a história do general Antônio de Souza Netto, que lutou na Revolução Farroupilha e na Guerra do Paraguai. Apesar de romantizar o personagem-título, o filme procura mostrar os horrores da guerra e retrata a injustiça cometida aos negros (que receberam a promessa da liberdade, não cumprida). Destaque para a fotografia e para algumas cenas teatrais, como a do desfecho do filme.

Quanto Vale ou é por Quilo? (Sergio Bianchi, 2005): Documentário que utiliza o humor ácido para criticar a hipocrisia presente no terceiro setor. Faz pensar sobre as questões sociais do país, tratadas apenas na superfície. Se Bianchi tinha como objetivo constranger os espectadores, tenho certeza que conseguiu. Ótima analogia com a escravidão.

domingo, 17 de abril de 2011

Cordel Encantado


Cordel Encatado estreou na semana passada (Rede Globo, 18:30h) e deu uma mexida nas estruturas da teledramaturgia atual, tanto em termos de linguagem quanto em se tratando de conteúdo. De forma despretensiosa e leve, o enredo fala de dois universos distintos: o sertão nordestino do início do século XX e o reino fictício de Seráfia, com seus príncipes e castelos.

A novela é baseada na literatura de cordel, um tipo de poesia que foi "importada" de Portugal e se tornou popular no nordeste brasileiro. Justamente por isso, as autoras Thelma Guedes e Duca Rachid tem mais liberdade poética para inserir elementos criativos em meio ao contexto histórico. Um exemplo são as interferências modernas no figurino de época (a la Maria Antonieta). Um dos personagens usa óculos azul, por exemplo. O mesmo vale para a direção de arte (meu elemento preferido é o coreto da praça de Brogodó). Todos os elementos técnicos são cuidadosamente pensados. O roteiro também se destaca, como uma espécie de conto de fadas de caráter híbrido, onde várias culturas são mencionadas, até mesmo a árabe.

Outra novidade é que a novela é gravada em película, algo já tentado antes na Globo, mas que teve de ser abandonado no meio. Cordel Encantado utiliza planos abertos e enquadramentos bem interessantes, levando-se em conta as demais novelas do cenário televisivo atual. O núcleo do reino de Seráfia (gravado na França) tem uma fotografia em tons claros e prateados, enquanto o do sertão nordestino é retratado quase sempre em cores quentes, que puxam para o amarelo e para o laranja. 

As atuações não chegam a ser espetaculares, mas são muito boas em geral. Destaco Marcos Caruso e Zezé Polessa, no papel de prefeito e primeira-dama de Brogodó. Os dois fazem a dupla mais engraçada do folhetim, compensando, por exemplo, a atuação forçada e sem graça de Luiz Fernando Guimarães.

Se Cordel Encantado manter a qualidade do roteiro, sem cair em clichês televisivos e estereótipos, e se conseguir manter a linguagem diferenciada até o fim, tem tudo para se tornar uma das melhores novelas que já passaram pelo horário das 18 horas.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Quanto Mais Sangue Melhor II

O Jornal Nacional apresentou, na edição dessa segunda-feira, 11 de abril de 2011, uma reportagem preconceituosa a respeito dos manuscritos achados na casa de Wellington Menezes, responsável pela morte de 12 crianças na semana passada. Os manuscritos fazem referência à religião islâmica e a atentados terroristas, entre outras coisas. 

Assista à reportagem aqui: http://migre.me/4e7Lp

Não é mentira que Wellington tenha citado tanto o islamismo quanto o terrorismo nesses manuscritos, embora tudo indica que ele não estava em perfeita condição de sanidade mental quando o fez. O problema é que essas duas palavras foram usadas quase que como sinônimos pelo repórter Eduardo Tchao, de forma superficial e irresponsável. A reportagem nem ao menos comenta o provável estado de confusão religiosa do assassino, fato que já tinha sido afirmado por especialistas ao canal Globo News.

A reportagem cita ainda o trecho em que Wellington Menezes faz referência ao bullying que sofreu na infância, sem, entretanto, denominá-lo assim. A ligação que está sendo feita pela imprensa, entre o bullying e o massacre da semana passada, foi tida como preconceituosa por pelo menos três especialistas consultados pela Globo News nos últimos dias. Nenhum especialista foi consultado pela Globo sobre esse assunto.

Quanto às questões que o assunto levantaria, pouco ou quase nada foi discutido na tv aberta. Falta de tempo ou de interesse? No agendamento de pautas do horário nobre, é mais lucrativo alertar para um "suposto" terrorista no Brasil do que discutir questões como o contrabando de armas e as doenças psicóticas, só para dizer algumas. 

Aliás, segundo o responsável pelo inquérito, em entrevista (novamente) à Globo News, é pouco provável que a ligação entre Wellington Menezes e o terrorismo tenham algo a ver com o massacre. A Globo omitiu a verdade, preferindo, mais uma vez, o espetáculo.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Quanto Mais Sangue Melhor

Não foi nenhuma surpresa ver a tragédia que deixou 12 crianças mortas na escola Tasso da Silveira virar espetáculo na televisão brasileira. Emissoras brigavam pela "melhor imagem", aquela que chegasse o mais próximo possível do momento exato do massacre. Quanto mais sangue, melhor.

A Band começou sua edição do Jornal da Band com um vídeo que sintetizava os piores momentos da tragédia. Com uma música dramática ao fundo e uma edição de vídeo acelerada, o que se via eram crianças correndo ensanguentadas ou então as palavras "sangue, sangue, crianças mortas". Nas reportagens, espaço para a reconstrução do fato, para o desespero dos pais, para a retrospectiva de fatos parecidos ao redor do mundo (com direito às "melhores imagens") e, principalmente, para exibição de vídeos amadores. A emissora não se dedicou a levantar maiores questionamentos; ao invés disso, dedicou 1 minuto para a repercussão internacional do fato. Assim, também, foi a repercussão nas redes Record e Globo.

A Record fez uma cobertura ainda mais sensacionalista do fato, mostrando imagens dos feridos sem nenhum pudor, inclusive do buraco que uma das balas teria feito em uma vítima. Vídeos amadores mostravam os pais correndo pelos corredores enquanto uma criança ferida permanecia no chão. A emissora deu destaque para a reconstrução do fato, para a reação dos pais, para o policial que matou o assassino, para um breve perfil do assassino, que foi representado como uma pessoa anti-social e isolada, e para a reação da presidente Dilma Rousseff, que fez questão de mostrar o quão comovida ficou a presidente.

A comoção de Dilma também foi mostrada pela Globo, além de reportagens com entrevistas com os pais e pessoas que ajudaram e com a reconstrução do fato. O principal trunfo, porém, foi o relato da estudante Jade, que narrou de forma emocionante os momentos de pânico e, no fim, agradeceu ao policial que matou o assassino. Márcio Alexandre Alves foi um dos destaques da edição, retratado como verdadeiro herói. A Globo dedicou ainda uma reportagem ao perfil do assassino, com entrevistas exclusivas concedidas pelos vizinhos e pelo irmão adotivo dele, que destacou que a mãe biológica do rapaz também tinha um histórico de doença mental e, ainda, contou que o irmão admirava o atentado terrorista de 2001. Ao mostrar a carta deixada por ele, o fanatismo religioso foi mostrado como destaque. O bullying também foi uma das questões citadas como relação a esse tipo de tragédia, embora nenhuma fonte tenha sido usada para legitimar essa ligação. 

Em suma, o que se viu foram informações não-verificadas, muitas imagens chocantes de vídeos amadores e, especialmente, sonoras emocionantes dos entrevistados, que utilizaram dezenas de vezes a palavra "sangue". É a tragédia em forma de espetáculo televisivo. 

Até agora, houve pouco espaço para debate, a não ser alguns questionamentos sobre o desarmamento (na Globo, o comentarista de segurança Rodrigo Pimentel afirmou que a única medida capaz de evitar esse tipo de tragédia seria a proibição do uso de armas. Não foi dado espaço para uma opinião divergente). O assunto ainda vai durar pelo menos uma semana. Depois do primeiro dia, pautas serão puxadas do fato inicial e renderão até que a próxima tragédia ocorra. É nesse espaço de tempo que veremos quais questões serão postas em debate pela mídia e de que forma elas serão tratadas. Postarei de novo sobre isso na semana que vem.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Meu post definitivo sobre a moda

Eu já quis muito trabalhar com moda. Como produtora, como publicitária, como jornalista. Já amei muito a moda. E, a cada dia, queria conhecer mais sobre o assunto. Mas quanto mais eu conhecia, mais crescia minha insatisfação. Já falei muitas vezes, e repito aqui, que eu não gosto de como a moda é tratada pelas mídias (sociais e de massa) e pela pessoas também. O único respaldo que encontro está no meio acadêmico. 

Queria muito que essa insatisfação deixasse os ambientes fechados das universidades e fosse pras ruas, pras passarelas. Mas não sou eu que vou conseguir mudar a situação. Vejo tanta gente talentosa e insatisfeita (Idéias com Acento, Edição de Luxo) querendo dar à moda o valor que ela merece, mas a frivolidade continua lá, nas Lillians e Glorias da vida, que preferem fazer piada das roupas dos ditadores sanguinários a lançar um tema pra reflexão; que preferem ridicularizar quem se veste de modo errado a perceber que moda implica individualidade. 

Já fui muito idealista, esperando que surgisse uma nova Coco Chanel ou um novo Yves Saint Laurent, mas os tempos mudaram. Apesar de tudo parecer ter aumentado de velocidade (na internet, a cada dia há mudanças significativas que alteram nossa vida on e offline), a moda continua devagar.

Resolvi então ir pra um outro ramo pelo qual tenho paixão: o jornalismo. Provavelmente saí de uma bóia e fui parar em um barco afundando, mas pelo menos vou estar fazendo o que eu realmente gosto. Sei que talvez eu tenha até mesmo mais insatisfação do que eu tenho com a moda, mas me motiva muito mais lutar pela informação que diz respeito a pessoas do que pela moda, que infelizmente está mais para marcas do que para pessoas.

Enquanto isso, vou acompanhar e torcer de longe, olhando para a moda como uma velha amiga que de vez em quando reencontro.

Já postei muito sobre isso no meu antigo blog, Valentino Dress, mas faltava um post definitivo aqui. E é esse. Abandonei o Valentino Dress quando abandonei a moda. Aliás, a palavra Valentino está ligado a marcas e eu peguei uma certa raiva da palavra "marcas" e seus derivados, por isso até mesmo larguei a Publicidade. Prometo não bater mais na mesma tecla.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Inside An Imperfect Dream



Inside An Imperfect Dream é uma coletânea que reúne as músicas mais intimistas do fenômeno pop Britney Spears. As canções selecionadas permeiam diversos estilos, sempre colocando em evidência uma das características mais reveladoras e menos conhecidas da cantora: sua voz marcante em tons graves. Com letras angustiantes e melodias pesadas, o álbum inicia com mid-tempos mais leves, além do cartão de visitas My Prerogative, e vai se revelando cada vez mais profundo. Aos poucos, vamos penetrando no sonho imperfeito de Britney Spears. Depois de ouvir esse álbum, você nunca mais vai olhar para a princesa do pop da mesma maneira.


TRACKLIST
1. My Prerogative
2. And Then We Kiss
3. Quicksand
4. He About To Lose Me
5. Rebellion
6. I Run Away
7. Criminal
8. To Love Let Go
9. Amnesia
10. All That She Wants
11. Sugarfall
12. Untitled Lullabye
13. Luv The Hurt Away


DOWNLOAD
http://www.multiupload.com/ZIJID976LQ

Muitas pessoas não sabem, mas Britney tem uma voz grave extremamente linda (que ela raramente usa em suas músicas). Algumas das músicas nunca lançadas por ela exploram esse lado. Eu fiz essa coletânea ontem de noite tentando reunir essas músicas, a maioria composta pela própria Britney. A parte mais trabalhosa foi colocar as músicas em uma ordem em que elas encaixassem e o álbum ficasse harmônico, porque são bem diferentes, de vários momentos da carreira dela. Acho que o resultado final surpreende quem não conhece e também quem conhece a Britney. 

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Top 5 - Billy Wilder


Billy Wilder é meu segundo diretor favorito e a minha admiração por ele só cresce a cada filme que eu vejo! Polêmico, inteligente, corajoso, Wilder tocou em vários assuntos delicados em suas obras e criticou todo mundo, desde a imprensa e a própria classe cinematográfica até a sociedade. Sempre com roteiros muito bem construídos, ele circulou com maestria por vários gêneros. Prova disso é que ele dirigiu a dita "melhor comédia de todos os tempos" e o "filme-síntese do gênero noir". Algumas de suas características marcantes são o uso da narração em off e dos flasbacks e seus protagonistas jornalistas/escritores. Billy Wilder sempre teve a sorte de contar com grandes atuações e produziu clássico após clássico. Eu ainda não conheço toda a obra dele, mas me deu uma dor no coração ter que deixar Sabrina e O Pecado Mora ao Lado fora desse Top 5 (que não é definitivo).

#5 Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950): Apesar de contar o desfecho da história já no início, o diretor consegue prender a atenção do espectador durante todo o filme e faz uma dura crítica  ao mundo do cinema através de uma atuação memorável de Gloria Swanson.

#4 Farrapo Humano (The Lost Weekend, 1945): Mais uma vez com o uso inteligente do flashback, Wilder produz uma angustiante e realista história sobre o alcoolismo e a destruição que ele pode causar ao homem, em um filme que, mesmo nos dias de hoje, ainda é forte.

#3 Pacto de Sangue (Double Indemnity, 1944): Pérola dos filmes noir, Pacto de Sangue me deixou algo que eu nunca vou esquecer: a expressão psicótica de Barbara Stanwyck. Ousado e surpreendente para os padrões da época, ainda hoje é melhor que a maioria dos filmes de suspense atuais.

#2 Quanto Mais Quente Melhor (Some Like It Hot, 1959): Mesmo em um filme de comédia, Wilder novamente conseguiu chocar ao colocar 2 travestis na tela do cinema e, mais, mostrar cenas sensuais de Marylin Monroe, além de produzir uma das frases mais célebres do cinema. 

#1 A Montanha dos Sete Abutres (Ace in the Hole, 1951): É o filme mais pessimista (ou seria realista?) de Wilder. Nem os próprios espectadores são poupados da crítica sobre a exploração da desgraça humana. Um ótimo filme que só poderia ter sido feito por um diretor com tanta coragem quanto Billy Wilder.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Balzac e o Jornalista

"Émile era um jornalista que conquistara mais glória sem fazer nada do que outros com seus sucessos. Crítico ousado, cheio de verve e mordacidade, possuía todas as qualidades que seus defeitos comportavam. Franco e brincalhão, dizia abertamente mil epigramas a um amigo que, ausente, ele defendia com coragem e lealdade. Escarnecia de tudo, mesmo de seu futuro. Sempre sem dinheiro, permanecia mergulhado, como todos os homens de alguma importância, numa inexprimível preguiça, lançando um livro numa palavra na cara de pessoas que não sabiam pôr uma palavra nos livros. Pródigo de promessas que nunca realizava, fizera de sua fortuna e de sua glória uma almofada para dormir, correndo assim o risco de despertar velho num asilo. Aliás, amigo até no cadafalso, fanfarrão de cinismo e simples como uma criança, só trabalhava para se divertir ou por necessidade."

A Pele de Onagro, L&PM, edição 2008, pág. 66


Atualmente, mudou alguma coisa?

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Crítica: Hold It Against Me

Britney Spears acaba de lançar o videoclipe de sua nova música, Hold It Against Me. Dirigido por Jonas Akerlund (American Life, Smack My Bitch Up), o vídeo surpreendeu e mostrou ser o trabalho mais maduro da cantora pop até o momento.



À primeira vista, Hold It Against Me parece ser constituído apenas por passos de dança e uma luta a la Heartbreaker, de Mariah Carey. Mas um olhar mais detalhado consegue captar a mensagem por trás dos efeitos especiais e da edição frenética de Akerlund. O vídeo é pura e simplesmente um desabafo de Britney a respeito da fama e da época em que chegou ao fundo do poço, raspou a cabeça e chocou o mundo com uma desastrosa apresentação no VMA, em 2007.

O vídeo começa com o início meteórico da carreira da artista, que imediatamente apresentou ao mundo a cantora que conhecíamos até então, vendida pela imagem de uma menina perfeita e, como sugere a brancura de seu vestido, pura.


Britney tem uma carreira de ascensão rápida (o que é mostrado enquanto ela vai subindo em um tubo, rodeada por monitores que exibem seus videoclipes anteriores) e é constantemente alvo das câmeras e microfones. Mas nem sempre essa super exposição na mídia a favorece. Sua imagem e suas falas são, muitas vezes, distorcidas. 


E eis então que o colapso acontece, justamente no chamado break da música. Seus fãs, sua família e a mídia não apenas deixam de apoiá-la como não enxergam o que estava acontecendo com ela. Obrigada a sempre manter um sorriso impecável, Britney surta, manchando sua carreira, sua imagem perfeita (o videoclipe mais manchado pelas tintas é o de Baby One More Time) e seu título de princesa do pop. Essa cena pode simbolizar também o fim de seu casamento, já que foi devido a esse fato que Britney começou a perder o controle sobre si mesma.


Enquanto isso, a cantora está dividida em duas. Como seu empresário Larry Rudolph declarou, a briga entre a Britney de vermelho e a Britney de azul pode significar a luta interior travada entre a Britney pessoa e a  profissional, dado o desejo que ela tinha de se aposentar na época. Tentando derrubar seu lado profissional, a Britney pessoa acaba caindo também. A princesa do pop está agora completamente manchada, sozinha.


Mas gradualmente as três Britneys representadas se levantam, conseguem se reerguer e dar a volta por cima. O ponto de interrogação encerra o vídeo, deixando no ar a pergunta "e agora, qual é o próximo passo de Britney?"

Hold It Against Me permite muitas interpretações, as publicadas aqui são as que estão sendo mais comentadas pelos fãs e pela crítica. O vídeo ainda vai levantar muitas discussões entre aqueles que conhecem a carreira de Britney, mas é fato que ele revela-se o trabalho mais autobiográfico, mais expressivo e mais arriscado da cantora. Sem dúvidas, Britney evolui como artista.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Reflexões Cinematográficas

Férias é o tempo ideal pra ver filmes. Enquanto me atualizo com os filmes concorrentes ao Oscar, também aproveito pra ver filmes clássicos que ainda não conheço. Gosto de refletir sobre cada filme depois que assisto, principalmente se ele correspondeu às minhas expectativas. Gosto de pensar na mensagem de cada obra e de comparar filmes que tenham ligação. Os últimos que eu vi e escolhi de forma aleatória acabaram se encaixando, dialogando entre si.

Tudo começou com Sonhos (1990), de Akira Kurosawa. Eu já tinha visto esse filme quando criança e, na época, não entendi nada. Trata-se de uma série de curtas-metragens inspirados em sonhos do próprio cineasta. O filme é belíssimo, alterna momentos suaves com críticas ao individualismo, ao descuido com o meio ambiente, à guerra. Um lindo filme, que te deixa extasiado quando termina. O mais impressionante foi a forma como Kurosawa inseriu a própria arte no filme. Além da música e da dança, ele falou também da pintura, no famoso curta sobre Van Gogh. É a arte retratada pela arte.

Em seguida vi Luzes da Cidade (1931), de Chaplin, e me deparei com uma crítica à sociedade e ao sistema de trabalho vigente na época da crise de 1929. Assim como Kurosawa, Chaplin retrata de forma quase poética um tema tão grave. E assim como o final de Sonhos termina nos fazendo sorrir, quase querendo levantar do sofá e dançar junto pela celebração da vida, Luzes da Cidade encerra com um belo e leve sorriso de Chaplin, que nos enche de esperança.

Em O Anjo Exterminador (1962), Luis Buñuel faz uso do surrealismo para fazer sua crítica. Mais uma vez movimentos artísticos são inseridos no próprio cinema. E mais uma vez o onírico se faz presente. Desta vez, a crítica é dirigida à burguesia, através de uma metáfora brilhante do cineasta espanhol, onde membros da elite são impedidos de sair de uma casa e veem suas aparências impecáveis serem reveladas. A mensagem não deixa de ter relação com o filme de Chaplin, que também mostra as diferenças entre o topo e a base da pirâmide.

Por fim, com Metropolis (1927), de Fritz Lang, vi novamente uma corrente artística ser utilizada pelo cinema com maestria. Através do expressionismo alemão, onde o onírico volta a aparecer, Lang também criticou o sistema de classes e de certa forma serviu como um complemento ao filme de Buñuel, já que o austríaco, sem piedade ao espectador, nos faz mergulhar na vida difícil e miserável dos trabalhadores. Metropolis encerra o meu ciclo com um final feliz, porém reflexivo: "o mediador entre a cabeça e as mãos é o coração".

Diferentes nacionalidades, estilos, autores, épocas e gêneros. Mas a mesma mensagem.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Sobre preconceitos e conteúdo


 Será que nesse mundo de hibridizações de hoje em dia, onde nenhuma fronteira é bem definida, é correto classificar tudo como 8 ou 80? Por exemplo, o que é mainstream não possui conteúdo e o que é dito "cult" possui? Não seria um pouco frankfurtiano ignorar a existência de conteúdo (mesmo que mínima) nas formas populares de cultura?

Cito o carnaval como um dos exemplos mais claros. Os desfiles das escolas de samba geralmente apresentam enredos, representados na avenida por fantasias, pela música e pela dança. Esses desfiles são propriamente populares, mas não deixam de ter algum conteúdo. Seus enredos, geralmente, dizem respeito a temas culturais do Brasil e do mundo.

Acho que a atribuição do conteúdo depende da interpretação de cada receptor da mensagem. Alguns podem assistir a Avatar e achar ali uma fábula sobre a importância do meio ambiente, enquanto, ao verem O Anjo Exterminador, não identificam conteúdo algum. Isso significa que o filme de Buñuel é superficial devido ao julgamento de alguns?

E a moda? Ela trata-se apenas de um jogo de tendências e imposições ou podemos ver algo mais em um simples vestido de bolinhas? Assim como a arte, o conteúdo presente na moda é subjetivo, de forma que cada pessoa interpreta as mensagens segundo suas concepções e precedentes.

Acredito que já está na hora de abandonarmos os pré-julgamentos e aceitarmos que existe algo mais além da velha dicotomia pop-erudito. Não existem mais grupos dividos em "fãs de Dostoiévsky" e "fãs de Paulo Coelho". As culturas, cada vez mais híbridas, estão dissolvendo barreiras. As diferenças não deveriam gerar conflitos, mas sim serem respeitadas e, quem sabe, entendidas.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Blade Runner + HQ + Moda





Fotografia: Thaís Bueno
Produção de moda: Thaís Bueno
Beleza: Carolina Gomes
Modelo: Carolina Gomes

domingo, 16 de janeiro de 2011

Fashion Rio (e o que faz meus olhos brilharem)

Eu bem que tentei, mas não consegui ficar longe da moda. Assim que abri as primeiras fotos dos desfiles do Fashion Rio Inverno 2011, meus olhos literalmente brilharam. Foi esse o meu reencontro com a moda, foi aí que eu relembrei o que é a moda pra mim e por que ela é tão apaixonante.

Entre todos, três desfiles me encantaram mais.

A Printing veio numa explosão de cores de encher os olhos em formas amplas primeiramente monocromáticas e depois em belas combinações de cores. Só não entendi as penas.

Com uma proposta completamente oposta e utilizando apenas a cor preta, Walter Rodrigues se inspirou no livro “Viagem ao Afeganistão”, de Arthur Omar, em um desfile sóbrio e reflexivo, com a Rosa de Hiroshima como trilha sonora. Lindo.

Como alternativa pra essas duas idéias opostas, a Coven, que teve como tema a tecelagem, misturou estampas (como xadrez e pied-de-poule) e terminou a coleção com um ar grunge, subvertendo até mesmo o clássico casaco "Chanel."

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Planejando uma viagem


Eu nunca viajei pra muito longe nesses meus quase 20 anos de existência. Já fui para uma cidadezinha da Venezuela quanto tinha uns 12 anos, mas naquela ocasião eu tinha ido a Boa Vista (capital de Roraima) com meus pais. 

Agora, se tudo der certo, eu vou pra Buenos Aires no meio do ano com duas amigas. Nós não gostamos daquelas excursões, queremos ir como mochileiras mesmo, ficar em albergues e tudo que tem direito. Já começamos a planejar a viagem, e eu tô amaaando essa etapa. Não tinha ideia de como isso dava trabalho (são muitos detalhes, desde a passagem, local de hospedagem, pontos turísticos, etc.), mas a verdade é que eu achei semelhanças com o que eu faço pros meus trabalhos na Fabico (Faculdade de Bilhar e Comunicação da UFRGS - mentira, o Bi é de Biblioteconomia).

Acho que eu já devo ter feito uns 5 trabalhos de planejamento na faculdade, onde basicamente a gente primeiro pesquisa TUDO que puder sobre um assunto e depois faz um planejamento sobre ela (na Fabico geralmente é planejamento de marketing ou de mídia). É praticamente isso que eu tô fazendo a respeito de Buenos Aires. A diferença é que dessa vez eu não vou ganhar nota. 

P.S.: Se eu não tivesse me encontrado com o Jornalismo, acho que iria gostar de trabalhar na área de planejamento em uma agência de Publicidade.