quarta-feira, 20 de julho de 2011

Crescimento

Se tem uma palavra que pode definir o fenômeno Harry Potter, essa palavra é crescimento. Em primeiro lugar, porque nós, os fãs (não tenho como fazer um texto com olhar distanciado), crescemos junto com as personagens. Ao longo da década, vimos Harry enfrentando seus medos, descobrindo amores e tendo que lidar com perdas difíceis. Aprendemos junto com ele valores que, embora possam parecer psicologicamente rasos nos livros de JK Rowling, fazem parte de nossa formação. Não há como negar isso quando se fala de Harry Potter. Muito do que somos hoje veio diretamente das personagens.

Tenho a impressão de que isso aconteceu também com os atores principais dos filmes de Harry Potter: Daniel Radcliffe, Rupert Grint e Emma Watson. Não deve ser nada fácil viver a infância tendo que, todos os dias, assumir o papel de outra pessoa. Hoje, quando vejo entrevistas dos atores e comparo com suas atuações, vejo muitas semelhanças no jeito de ser da atriz Emma Watson e da personagem Hermione Granger, por exemplo. As personagens também fizeram parte do crescimento deles, e acredito que tenha sido praticamente impossível eles conseguirem separar (por 10 anos!) seu "eu-real" de seu "eu-mágico".

Mas não é só por isso que Harry Potter significa crescimento. É interessante notar também o amadurecimento dos filmes. Se Chris Columbus, o diretor dos dois primeiros (em um total de oito), introduziu o mundo de Harry Potter de forma infantil e pouco criativa, David Yates chegou ao fim impondo seu estilo e finalmente conseguindo transportar as páginas do livros para as telas de cinema com uma certa maturidade cinematográfica. Yates se permitiu, por exemplo, realizar planos longos, em que o silêncio revela mais do que qualquer diálogo, coisa que seria impossível 10 anos antes, quando era exigido da série um ritmo hollywoodiano.

Para isso, Yates contou com a ajuda de ótimas atuações, inclusive de veteranos do cinema britânico. No último filme, Relíquias da Morte, Alan Rickman é, sem dúvidas, o que mais se destacou, representando a personagem mais complexa de toda a série. Ralph Fiennes finalmente conseguiu transmitir um pouco da intensidade do vilão Voldemort tal qual o vimos nas páginas dos livros. Os atores jovens também atingiram seu ápice no final. A partir da direção de Yates, o trio principal (principalmente Emma Watson e Daniel Radcliffe, que não vinham fazendo boas atuações) evoluiu muito. Emma deixou o exagero e soube expressar toda a carga emocional exigida pela personagem com veracidade. Rupert, que já apresentava boas atuações, pôde mostrar aspectos de Rony Weasley que ele ainda não tinha conseguido mostrar por causa do roteiro. Mas foi Daniel quem mais amadureceu. Nunca antes tínhamos visto um mesmo ator por 10 anos representando a mesma personagem, ainda mais em plena fase de crescimento. Se, em Relíquias da Morte, Harry finalmente se tornou um adulto ao ter que carregar um enorme peso nas costas, o mesmo parece ter acontecido a Daniel.

E, embora o final deixe boas impressões, é difícil aceitar essa perda, não apenas porque o fim de Harry Potter significa o fim da infância, mas também porque somos deixados em um momento em que, dentro e fora das salas de cinema, há ainda muito mais o que explorar.