segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Top 5 - Billy Wilder


Billy Wilder é meu segundo diretor favorito e a minha admiração por ele só cresce a cada filme que eu vejo! Polêmico, inteligente, corajoso, Wilder tocou em vários assuntos delicados em suas obras e criticou todo mundo, desde a imprensa e a própria classe cinematográfica até a sociedade. Sempre com roteiros muito bem construídos, ele circulou com maestria por vários gêneros. Prova disso é que ele dirigiu a dita "melhor comédia de todos os tempos" e o "filme-síntese do gênero noir". Algumas de suas características marcantes são o uso da narração em off e dos flasbacks e seus protagonistas jornalistas/escritores. Billy Wilder sempre teve a sorte de contar com grandes atuações e produziu clássico após clássico. Eu ainda não conheço toda a obra dele, mas me deu uma dor no coração ter que deixar Sabrina e O Pecado Mora ao Lado fora desse Top 5 (que não é definitivo).

#5 Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950): Apesar de contar o desfecho da história já no início, o diretor consegue prender a atenção do espectador durante todo o filme e faz uma dura crítica  ao mundo do cinema através de uma atuação memorável de Gloria Swanson.

#4 Farrapo Humano (The Lost Weekend, 1945): Mais uma vez com o uso inteligente do flashback, Wilder produz uma angustiante e realista história sobre o alcoolismo e a destruição que ele pode causar ao homem, em um filme que, mesmo nos dias de hoje, ainda é forte.

#3 Pacto de Sangue (Double Indemnity, 1944): Pérola dos filmes noir, Pacto de Sangue me deixou algo que eu nunca vou esquecer: a expressão psicótica de Barbara Stanwyck. Ousado e surpreendente para os padrões da época, ainda hoje é melhor que a maioria dos filmes de suspense atuais.

#2 Quanto Mais Quente Melhor (Some Like It Hot, 1959): Mesmo em um filme de comédia, Wilder novamente conseguiu chocar ao colocar 2 travestis na tela do cinema e, mais, mostrar cenas sensuais de Marylin Monroe, além de produzir uma das frases mais célebres do cinema. 

#1 A Montanha dos Sete Abutres (Ace in the Hole, 1951): É o filme mais pessimista (ou seria realista?) de Wilder. Nem os próprios espectadores são poupados da crítica sobre a exploração da desgraça humana. Um ótimo filme que só poderia ter sido feito por um diretor com tanta coragem quanto Billy Wilder.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Balzac e o Jornalista

"Émile era um jornalista que conquistara mais glória sem fazer nada do que outros com seus sucessos. Crítico ousado, cheio de verve e mordacidade, possuía todas as qualidades que seus defeitos comportavam. Franco e brincalhão, dizia abertamente mil epigramas a um amigo que, ausente, ele defendia com coragem e lealdade. Escarnecia de tudo, mesmo de seu futuro. Sempre sem dinheiro, permanecia mergulhado, como todos os homens de alguma importância, numa inexprimível preguiça, lançando um livro numa palavra na cara de pessoas que não sabiam pôr uma palavra nos livros. Pródigo de promessas que nunca realizava, fizera de sua fortuna e de sua glória uma almofada para dormir, correndo assim o risco de despertar velho num asilo. Aliás, amigo até no cadafalso, fanfarrão de cinismo e simples como uma criança, só trabalhava para se divertir ou por necessidade."

A Pele de Onagro, L&PM, edição 2008, pág. 66


Atualmente, mudou alguma coisa?

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Crítica: Hold It Against Me

Britney Spears acaba de lançar o videoclipe de sua nova música, Hold It Against Me. Dirigido por Jonas Akerlund (American Life, Smack My Bitch Up), o vídeo surpreendeu e mostrou ser o trabalho mais maduro da cantora pop até o momento.



À primeira vista, Hold It Against Me parece ser constituído apenas por passos de dança e uma luta a la Heartbreaker, de Mariah Carey. Mas um olhar mais detalhado consegue captar a mensagem por trás dos efeitos especiais e da edição frenética de Akerlund. O vídeo é pura e simplesmente um desabafo de Britney a respeito da fama e da época em que chegou ao fundo do poço, raspou a cabeça e chocou o mundo com uma desastrosa apresentação no VMA, em 2007.

O vídeo começa com o início meteórico da carreira da artista, que imediatamente apresentou ao mundo a cantora que conhecíamos até então, vendida pela imagem de uma menina perfeita e, como sugere a brancura de seu vestido, pura.


Britney tem uma carreira de ascensão rápida (o que é mostrado enquanto ela vai subindo em um tubo, rodeada por monitores que exibem seus videoclipes anteriores) e é constantemente alvo das câmeras e microfones. Mas nem sempre essa super exposição na mídia a favorece. Sua imagem e suas falas são, muitas vezes, distorcidas. 


E eis então que o colapso acontece, justamente no chamado break da música. Seus fãs, sua família e a mídia não apenas deixam de apoiá-la como não enxergam o que estava acontecendo com ela. Obrigada a sempre manter um sorriso impecável, Britney surta, manchando sua carreira, sua imagem perfeita (o videoclipe mais manchado pelas tintas é o de Baby One More Time) e seu título de princesa do pop. Essa cena pode simbolizar também o fim de seu casamento, já que foi devido a esse fato que Britney começou a perder o controle sobre si mesma.


Enquanto isso, a cantora está dividida em duas. Como seu empresário Larry Rudolph declarou, a briga entre a Britney de vermelho e a Britney de azul pode significar a luta interior travada entre a Britney pessoa e a  profissional, dado o desejo que ela tinha de se aposentar na época. Tentando derrubar seu lado profissional, a Britney pessoa acaba caindo também. A princesa do pop está agora completamente manchada, sozinha.


Mas gradualmente as três Britneys representadas se levantam, conseguem se reerguer e dar a volta por cima. O ponto de interrogação encerra o vídeo, deixando no ar a pergunta "e agora, qual é o próximo passo de Britney?"

Hold It Against Me permite muitas interpretações, as publicadas aqui são as que estão sendo mais comentadas pelos fãs e pela crítica. O vídeo ainda vai levantar muitas discussões entre aqueles que conhecem a carreira de Britney, mas é fato que ele revela-se o trabalho mais autobiográfico, mais expressivo e mais arriscado da cantora. Sem dúvidas, Britney evolui como artista.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Reflexões Cinematográficas

Férias é o tempo ideal pra ver filmes. Enquanto me atualizo com os filmes concorrentes ao Oscar, também aproveito pra ver filmes clássicos que ainda não conheço. Gosto de refletir sobre cada filme depois que assisto, principalmente se ele correspondeu às minhas expectativas. Gosto de pensar na mensagem de cada obra e de comparar filmes que tenham ligação. Os últimos que eu vi e escolhi de forma aleatória acabaram se encaixando, dialogando entre si.

Tudo começou com Sonhos (1990), de Akira Kurosawa. Eu já tinha visto esse filme quando criança e, na época, não entendi nada. Trata-se de uma série de curtas-metragens inspirados em sonhos do próprio cineasta. O filme é belíssimo, alterna momentos suaves com críticas ao individualismo, ao descuido com o meio ambiente, à guerra. Um lindo filme, que te deixa extasiado quando termina. O mais impressionante foi a forma como Kurosawa inseriu a própria arte no filme. Além da música e da dança, ele falou também da pintura, no famoso curta sobre Van Gogh. É a arte retratada pela arte.

Em seguida vi Luzes da Cidade (1931), de Chaplin, e me deparei com uma crítica à sociedade e ao sistema de trabalho vigente na época da crise de 1929. Assim como Kurosawa, Chaplin retrata de forma quase poética um tema tão grave. E assim como o final de Sonhos termina nos fazendo sorrir, quase querendo levantar do sofá e dançar junto pela celebração da vida, Luzes da Cidade encerra com um belo e leve sorriso de Chaplin, que nos enche de esperança.

Em O Anjo Exterminador (1962), Luis Buñuel faz uso do surrealismo para fazer sua crítica. Mais uma vez movimentos artísticos são inseridos no próprio cinema. E mais uma vez o onírico se faz presente. Desta vez, a crítica é dirigida à burguesia, através de uma metáfora brilhante do cineasta espanhol, onde membros da elite são impedidos de sair de uma casa e veem suas aparências impecáveis serem reveladas. A mensagem não deixa de ter relação com o filme de Chaplin, que também mostra as diferenças entre o topo e a base da pirâmide.

Por fim, com Metropolis (1927), de Fritz Lang, vi novamente uma corrente artística ser utilizada pelo cinema com maestria. Através do expressionismo alemão, onde o onírico volta a aparecer, Lang também criticou o sistema de classes e de certa forma serviu como um complemento ao filme de Buñuel, já que o austríaco, sem piedade ao espectador, nos faz mergulhar na vida difícil e miserável dos trabalhadores. Metropolis encerra o meu ciclo com um final feliz, porém reflexivo: "o mediador entre a cabeça e as mãos é o coração".

Diferentes nacionalidades, estilos, autores, épocas e gêneros. Mas a mesma mensagem.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Sobre preconceitos e conteúdo


 Será que nesse mundo de hibridizações de hoje em dia, onde nenhuma fronteira é bem definida, é correto classificar tudo como 8 ou 80? Por exemplo, o que é mainstream não possui conteúdo e o que é dito "cult" possui? Não seria um pouco frankfurtiano ignorar a existência de conteúdo (mesmo que mínima) nas formas populares de cultura?

Cito o carnaval como um dos exemplos mais claros. Os desfiles das escolas de samba geralmente apresentam enredos, representados na avenida por fantasias, pela música e pela dança. Esses desfiles são propriamente populares, mas não deixam de ter algum conteúdo. Seus enredos, geralmente, dizem respeito a temas culturais do Brasil e do mundo.

Acho que a atribuição do conteúdo depende da interpretação de cada receptor da mensagem. Alguns podem assistir a Avatar e achar ali uma fábula sobre a importância do meio ambiente, enquanto, ao verem O Anjo Exterminador, não identificam conteúdo algum. Isso significa que o filme de Buñuel é superficial devido ao julgamento de alguns?

E a moda? Ela trata-se apenas de um jogo de tendências e imposições ou podemos ver algo mais em um simples vestido de bolinhas? Assim como a arte, o conteúdo presente na moda é subjetivo, de forma que cada pessoa interpreta as mensagens segundo suas concepções e precedentes.

Acredito que já está na hora de abandonarmos os pré-julgamentos e aceitarmos que existe algo mais além da velha dicotomia pop-erudito. Não existem mais grupos dividos em "fãs de Dostoiévsky" e "fãs de Paulo Coelho". As culturas, cada vez mais híbridas, estão dissolvendo barreiras. As diferenças não deveriam gerar conflitos, mas sim serem respeitadas e, quem sabe, entendidas.