terça-feira, 17 de julho de 2012

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Más tarde a Oliveira le preocupó que ella se creyera colmada, que los juegos buscaran ascender a sacrificio. Temía sobre todo la forma más sutil de la gratitud que se vuelve cariño canino, no quería  que la libertad, única ropa que le caía bien a la Maga, se pierdera en una feminidad diligente. Se tranquilizó porque la vuelta de la Maga al plano del café negro y la visita al bidé se vio señalada por una recaída en la peor de las confusiones. Maltratada de absoluto durante esa noche, abierta a una porosidad de espacio que late y se expande, sus primeras palavras de este lado tenían que azotarla como látigos, y su vuelta al borde de la cama, imagen de una consternación progresiva que busca neutralizarse con sonrisas y una vaga esperanza, dejó particularmente satisfecho a Oliveira. Puesto que no la amaba, puesto que el deseo cesaría (porque no la amaba, y el deseo cesaría), evitar como la peste toda sacralización de los juegos.

Rayela, de Julio Cortázar (Ediciones Alfa, p. 37)

domingo, 8 de julho de 2012

Um Trem para as Estrelas



São 7 horas da manhã
Vejo o Cristo da janela
O sol já apagou sua luz
E o povo lá embaixo espera
Nas filas dos pontos de ônibus
Procurando aonde ir
São todos seus cicerones
Correm pra não desistir
Dos seus salários de fome
É a esperança que eles tem
Neste filme como extras
Todos querem se dar bem
Num trem pras estrelas
Depois dos navios negreiros
Outras correntezas
Estranho o teu Cristo, Rio
Que olha tão longe, além
Com os braços sempre abertos
Mas sem proteger ninguém

Eu vou forrar as paredes
Do meu quarto de miséria
Com manchetes de jornal
Pra ver que não é nada sério

Eu vou dar o meu desprezo
Pra você que me ensinou
Que a tristeza é uma maneira
Da gente se salvar depois
Num trem pras estrelas
Depois dos navios negreiros
Outras correntezas

De Cazuza e Gilberto Gil


sábado, 26 de maio de 2012

Esquinas Embriagadas de Cultura

Foto: Divulgação Cia um Pé de Dois, no Bairro Bom Fim

Muito legal o evento que rolou ontem na Cidade Baixa, bairro boêmio de Porto Alegre. Vários artistas de rua se apresentaram nas esquinas, como Mauro Bruzza (o Homem-Banda) e Mariana Ferreira, casados e fundadores da Cia Um Pé de Dois, além de integrantes do Circo Híbrido. Eles foram bem recebidos. Quem estava passando pelas apresentações parava pra assistir. Quem estava nos bares bebendo aplaudia com entusiasmo. Mariana me surpreendeu dizendo que, em Porto Alegre, o chapéu (dinheiro arrecadado por cada apresentação, conforme quem estiver assistindo queira doar) é muito bom e que não se pode falar que falta espaço para os artistas de rua, porque esse é justamente seu desafio. De qualquer forma, ações desse tipo não são muito comuns em Porto Alegre e o objetivo de levar cultura e tirar o marasmo que chegou por lá desde que vários bares começaram a ser fechados foi cumprido. A ação foi promovida pelo Cidade Baixa em Alta, formado por comerciantes do bairro. 

Eu cada vez mais estou apaixonada pelo teatro de rua. Porto Alegre tem tanta capacidade e potencial pra que esse gênero se desenvolva cada vez mais. Quanto mais ações desse tipo existirem, mais vai se tornar natural e incentivador para que outros artistas se juntem. E a Cidade Baixa, junto com o Bom Fim, é ideal pra promoção da cultura em Porto Alegre, mesmo que tudo tenha que fechar à meia-noite. O que não se pode fazer é se entregar pros homens. De jeito nenhum.

domingo, 6 de maio de 2012

Wilder e Villaça

Depois de um ano longe dos bloquinhos de notas, voltei a fazer reportagens no começo de abril. A pauta não poderia ser melhor: Billy Wilder. No fim de março, completaram-se 10 anos desde que ele morreu. Eu já tinha visto dez filmes do Wilder e já sabia o que eu queria destacar, mas claro que eu precisava de uma fonte. Tentei marcar com o Hélio Nascimento, crítico de cultura do JC, mas as agendas não bateram. Por sorte, o Pablo Villaça estava vindo pra Porto Alegre na semana seguinte com o curso de crítica de cinema que ela leva a várias cidades do país. O timing foi perfeito, marquei com ele por email e nos encontramos na Casa de Cultura Mário Quintana. 

Acho que ele não gosta muito de dar entrevista e chegou achando que a minha reportagem era pra um veículo impresso, mas foi muito atencioso e a entrevista foi super produtiva. Eu, que achava que o mundo era "Deus no céu e Wilder na terra", fiquei surpresa quando ele disse que na verdade o cineasta dedurava meio mundo na época do McCarthismo. Ninguém é perfeito né (desculpem por essa). Agora fiquei pensando que eu não coloquei isso na reportagem, mas acho que deveria ter colocado.


segunda-feira, 12 de março de 2012

Jornalismo Literário

Tenho que fazer uma confissão. Durante os quarto anos em que cursei Publicidade, nunca li um livro sequer sobre o assunto. Nada me atraía, nem sobre design, marketing, criação, planejamento, nada. Por outro lado, os livros de jornalismo sempre me fascinaram. Devo ter lido uns 15 nos últimos dois anos e não era raro eu levar um deles pra ficar lendo em plena aula (de Publicidade). Os professores deviam pensar que eu era uma menina confusa. E era mesmo.

Li manuais de redação, teoria e técnica do jornalismo impresso, jornalismo cultural e até jornalismo investigativo. Também li alguma coisa de jornalismo literário, que chamava a atenção desde os 17 anos. De Gay Talese a Joel Silveira, recomendo todos os que li abaixo:

A Sangue Frio, de Truman Capote: Acompanha até o fim a investigação e o julgamento dos dois assassinos dos quarto membros da família Clutter. Capote trabalhou durante anos nesse caso, produzindo uma reconstituição detalhada do crime e apresentando o ponto-de-vista dos amigos das vítimas e também dos assassinos.

O Inverno da Guerra, de Joel Silveira: Relato do período em que Silveira foi enviado como correspondente do Diário dos Associados à II Guerra Mundial. O livro é bastante informativo sobre o que os pracinhas tiveram que enfrentar na Itália e passa a apresentar um tom lírico mais pro final.

Emboscada no Forte Bragg, de Tom Wolfe: Não é o livro mais famoso de Wolfe, mas é bem interessante, apresentando questões cruciais sobre ética. O livro acompanha uma equipe de telejornal e a falta de escrúpulos ao tentar um furo de reportagem. Também é interessante pra quem se interessa por telejornalismo, mostrando um pouco dos bastidores e do modo-de-fazer de um telejornal.

O Reino e o Poder, de Gay Talese: Livro que conta a história do New York Times minuciosamente, desde sua criação. É um puco cansativo, porque Talese acrescenta também as histórias de vida dos personagens (do alto-escalão, em sua maioria), mas vale a pena pela narração da disputa pelo poder no jornal e em suas sucursais.

Rota 66, de Caco Barcellos: Fruto de uma trabalhosa investigação, Rota 66 desmascara os assassinatos cometidos por um setor da polícia de São Paulo e compartilha os métodos utilizados por Caco para chegar ao resultado final. O livro também narra episódios da vida do jornalista na infância e no exercício da profissão.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Viagem de Trem em Buenos Aires

Há alguns dias, chegou ao Brasil mais uma notícia sobre um acidente envolvendo um trem na Argentina. Dessa vez, foram 50 mortos e centenas de passageiros feridos. No ano passado, outros incidentes ocorreram sem que fossem tomadas medidas para evitar novos acidentes. Foi preciso uma tragédia maior para que o país começasse a discutir os problemas desse tipo de transporte em Buenos Aires.

Estive na Argentina em julho do ano passado e presenciei de perto a situação precária dos trens da capital federal. Assim como fiz para visitar todos os outros bairros, fui caminhando do Centro até o Retiro, onde deveria pegar o trem rumo à periferia da cidade. Meu objetivo era chegar até a Estação Mitre, onde poderia pegar o turístico Tren de la Costa e visitar as cidades de Tigre e San Isidro, a 30 km de Buenos Aires. Os trens que vi pareciam estar caindo aos pedaços. Sentada em um dos assentos velhos, cheguei a ficar com medo porque o trem balançava perigosamente. Pensei que um deles fosse sair dos trilhos. As estações eram praticamente abandonadas. Uma delas (não lembro o nome) não possuía entrada nem fiscalização, de forma que qualquer pessoa poderia entrar em um dos trens sem apresentar bilhete. O que eu vi foi muito diferente do Trensurb aqui de Porto Alegre, por exemplo. Foi muito diferente também do centro de Buenos Aires. Era muito fácil perceber que aquela era uma região esquecida pelas autoridades, um corpo estranho que não pertencia à "Paris da América Latina".

O Tren de la Costa, por sua vez, com sua estação bem cuidada, com lindas lojinhas vintage e bistrôs que nos faziam voltar no tempo, também tratavam de apagar a triste realidade da periferia. Mas eu não fiquei surpresa quando, no ano passado, vi a notícia sobre o acidente entre um trem e um ônibus em Buenos Aires, assim como não fiquei surpresa com esse acidente horrível que aconteceu há poucas semanas.

O Clarín fez, há dois dias, uma reportagem sobre as condições precárias dos trens em Buenos Aires, e a situação é ainda pior do que eu tinha visto. Parece que eles vão diminuir o número de trens para aliviar o problema. Será que é suficiente? Enquanto isso, toda essa situação deveria servir de aviso ao Brasil, de que casos aparentemente isolados podem revelar problemas até então ignorados.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Caderno 2 - Série especial sobre moda

Fiz essa série quando estava começando no Caderno 2. Queria mostrar como a moda e a história se entrelaçam e como a moda é um reflexo da sociedade. Modesta né?

Entrevistei Joana Bosak (com direito a um dos maiores micos que já paguei em entrevistas, porque cheguei super atrasada na casa dela, mas serviu pra me ensinar uma lição). Ela foi com certeza uma ótima contribuição, mas hoje eu teria feito perguntas diferentes, eu acho. Mudaria a parte 3, sobre os anos 70.

Apesar dos erros técnicos e da redundância que eu acabei criando ao repetir no texto o que ela dizia nas sonoras, fiquei satisfeita com a edição de imagens e acho que a tentativa foi válida, vai.




domingo, 15 de janeiro de 2012

Métodos de avaliação do ENEM são alvo de denúncias de alunos e ex-corretores

           Os questionamentos sobre a credibilidade do Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM, têm virado pauta pelo menos uma vez por ano, desde que o exame se tornou a principal porta de entrada dos brasileiros no Ensino Superior gratuito. Vazamentos de questões ou até mesmo de provas inteiras e erros de impressão são alguns dos principais problemas apresentados. Há indícios, porém, de que o sistema de avaliação das provas também apresenta defeitos, comprometendo, assim, alunos de diversas regiões do país.
            A questão 133 da prova de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias de 2011 exigia que o candidato identificasse a funcionalidade da ferramenta virtual Twitter. Na proposta de redação da mesma edição do exame, os candidatos deveriam dissertar sobre os limites entre o público e o privado na internet. Uma citação da revista Galileu, utilizada para auxiliar os candidatos na compreensão da proposta, dizia que a ONU havia declarado que o acesso à rede era um direito fundamental ao ser humano, tal como a saúde, a moradia e a educação. A realidade brasileira, entretanto, mostra que esse direito está longe de ser respeitado em sua plenitude. Segundo pesquisa realizada pela Fecomércio-RJ e pela Ipsos no último trimestre de 2011, apenas 48% da população do Brasil acessa a internet. Como esperar, portanto, que todos os candidatos tenham condições iguais de ser avaliados com base em seus conhecimentos de um recurso ainda excludente no Brasil?
            Esse é apenas um exemplo das muitas incoerências encontradas nas provas do ENEM. Na última semana, denúncias sobre o método utilizado na correção das redações têm sido realizadas por candidatos e ex-corretores. Em entrevista ao Jornal Extra, o professor Rafael Pina, que participou do grupo de corretores das redações em 2009, informou que não há coerência entre as notas, já que não é feita uma reunião entre os corretores para a unificação dos métodos. “O pagamento por número de redações [cerca de 73 centavos] estimula a leitura rápida, descompromissada. É preciso ser muito engajado socialmente para não fazer correções superficiais”, afirmou.
            Através do site Enem Urgente, alunos e ex-alunos do Ensino Médio questionam a escala adotada para a avaliação das redações. Com base em uma pesquisa realizada pelo diretor-presidente da Tales Consultoria Educacional, Leonardo Cordeiro, a redação é questionada porque possui uma escala que vai de 0 a 1000, o que faz com que ela seja supervalorizada em relação às outras quatro provas que constituem o exame, avaliadas com escalas diferentes.O INEP afirma que a redação é corrigida por dois professores e que, caso haja uma diferença maior de 300 pontos entre as duas correções, um terceiro professor é escalado. Para os alunos do Enem Urgente, entretanto, 300 pontos é uma diferença muito grande e pode fazer a diferença entre a classificação e a reprovação.
            O Jornal O Estado de São Paulo obteve acesso a um documento que confirma a revisão de 129 redações da última edição do exame, dado que contraria informações do MEC, segundo o qual apenas duas notas teriam sido alteradas. O primeiro recurso de revisão divulgado foi o de Michael Cerqueira de Oliveira, 17, que teve sua nota alterada de “anulada” para 880 pontos há algumas semanas. Na semana passada, mais um estudante, do estado de Belo Horizonte, teve sua nota corrigida.
            Segundo o MEC, a avaliação e a capacitação dos corretores da redação são de responsabilidade do consórcio contratado para a realização da prova, que cabe ao Cesp e ao Cesgranrio. Ambos afirmam, porém, que não estão autorizados pelo MEC a comentar o assunto.