domingo, 17 de abril de 2011

Cordel Encantado


Cordel Encatado estreou na semana passada (Rede Globo, 18:30h) e deu uma mexida nas estruturas da teledramaturgia atual, tanto em termos de linguagem quanto em se tratando de conteúdo. De forma despretensiosa e leve, o enredo fala de dois universos distintos: o sertão nordestino do início do século XX e o reino fictício de Seráfia, com seus príncipes e castelos.

A novela é baseada na literatura de cordel, um tipo de poesia que foi "importada" de Portugal e se tornou popular no nordeste brasileiro. Justamente por isso, as autoras Thelma Guedes e Duca Rachid tem mais liberdade poética para inserir elementos criativos em meio ao contexto histórico. Um exemplo são as interferências modernas no figurino de época (a la Maria Antonieta). Um dos personagens usa óculos azul, por exemplo. O mesmo vale para a direção de arte (meu elemento preferido é o coreto da praça de Brogodó). Todos os elementos técnicos são cuidadosamente pensados. O roteiro também se destaca, como uma espécie de conto de fadas de caráter híbrido, onde várias culturas são mencionadas, até mesmo a árabe.

Outra novidade é que a novela é gravada em película, algo já tentado antes na Globo, mas que teve de ser abandonado no meio. Cordel Encantado utiliza planos abertos e enquadramentos bem interessantes, levando-se em conta as demais novelas do cenário televisivo atual. O núcleo do reino de Seráfia (gravado na França) tem uma fotografia em tons claros e prateados, enquanto o do sertão nordestino é retratado quase sempre em cores quentes, que puxam para o amarelo e para o laranja. 

As atuações não chegam a ser espetaculares, mas são muito boas em geral. Destaco Marcos Caruso e Zezé Polessa, no papel de prefeito e primeira-dama de Brogodó. Os dois fazem a dupla mais engraçada do folhetim, compensando, por exemplo, a atuação forçada e sem graça de Luiz Fernando Guimarães.

Se Cordel Encantado manter a qualidade do roteiro, sem cair em clichês televisivos e estereótipos, e se conseguir manter a linguagem diferenciada até o fim, tem tudo para se tornar uma das melhores novelas que já passaram pelo horário das 18 horas.

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